Ainda não me recuperei do meu estado de saúde vergonhoso. Estou toda partidinha, sinto todos os ossinhos, músculos, tendões, cartilagens, veias e artérias, órgãos e até a raiz do cabelo me doí!! Parece que um TIR me passou por cima, só tenho pena de não lhe ter tirado a matricula…!!
Como se não me bastasse estar neste estado mísero, a Inês não resistiu e foi arrastada nesta corrente de bactérias e vírus. Coitada da miúda. O maridão bem tenta ir contra esta corrente maligna, mas acho que não se escapa! È caso para dizer: toca a todos!
Desde ontem à noite que a Inês, praticamente, não se alimenta. Á garganta dorida e a falta de apetite aliam-se às dores de cabeça e os típicos picos de febre. Telefonei para a pediatra e esta aconselhou-me a ir à medica de familia com ela, uma vez que a médica pediatra estava de férias. Porreiro!! Não podia ir de férias em melhor altura… ok, médico com a miúda.
Primeiro passo: centro de saúde da minha área de residência. Ahhhh a médica só dá consultas de manhã. Fantástico!! Sou uma utente tão assídua que nem sei o horário de atendimento.LOL
Segundo passo: levar a filhota ao centro de apoio complementar, tipo urgências. Ainda ponderei a levar directamente ao Hospital, mas achei que seria mais apropriado ser vista lá do que ir para o hospital. O estado de saúde não inspirava assim tantos cuidados.
Cheguei lá e adivinhem o que me esperava? Uma fila enorme! Aiii que eu já não sabia o que era estar à espera assim tanto tempo. Como já não havia lugares para me sentar, aguardei encostada a uma parede bem próximo do balcão de inscrição. A conta gotas, a funcionária, despachava o seu serviço. Quando não se tem ovos para fazer omoletes é complicado. Louvo a paciência desta senhora, faz aquilo que está ao seu alcance.
Se é verdade que há muitos utentes que precisam de cuidados médicos, há outros que nem por isso. E mais uma vez tive a prova de tal hobbie.
Enquanto permanecia à espera da minha vez, para ser atendida, passa uma senhora na casa dos
- “ Eu tenho uma doença muito má e não posso estar à espera!”
- “ Não a posso passar à frente. Já tem uma senha, não tem? Quer que peça ao segurança uma cadeira para se sentar?”
-“ Não, deixe estar!” – responde a senhora dona do seu nariz e quem sabe do Ministério da Saúde.
A nariz empinado desaparece e volta quando o numero da senha é chamado. Então olhem só a real lata da mulher, após a funcionária ter verificado que a médica de família dela estava a dar urgências, no mesmo horário, no gabinete dela.
Diz a funcionária:
_ “ A sua médica está de serviço. Tem que ser vista por ela. Se ela está de serviço, o “centro” não a pode consultar” – o que toda a lógica….
- “ahhh!! Eu sei!! Mas, sabe… eu estive lá ontem. Como os medicamentos que ela me receitou não fizeram efeito, vinha buscar outros diferentes com outro médico.” – boa!! Isso mesmo!! A industria farmacêutica agradece! Hum… será que a senhora também direito aos incentivos da classe médica?? Hummm… estou desconfiada que sim!! LOL
Depois de a funcionária explicar e pedir para que a senhora seguisse o procedimento correcto, esta não mudou de opinião. Em jeito de favor, a senhora lá aceitou a inscrição.
Estava a fazer a inscrição da Inês e uma médica foi buscar algo ao balcão. Aquela senhora apareceu não sei de onde, com uma velocidade fugaz no passo, só visto!!
-“ Oh Srª Drª, não me pode já chamar? É que eu tenho uma doença muito má e preciso de ser vista.”
- “ não, não posso! Você já viu a quantidade de gente que está à espera?? Comiam-me viva!” – dizia a médica em tom de brincadeira.
- “ você aqui manda, se dizer que passo à frente, passo! Ninguém tem nada a ver com isso!”
- “ Não posso. Aguarde só mais um bocadinho.” – Voltou costas e foi à sua vida
Não aguentei e sorri. A lorpa ainda teve a lata de me dizer:
- “Quem não tenta fica à espera!”
Não respondi, sentia-me demasiada fraca para o fazer. Deixei passar
Ironia do destino, a medica que lhe negou o pedido foi a mesma que atendeu a Inês. Segundo ela, a espertalhona está sempre “caída” no centro e sempre a fazer a mesma birra!
A grande parte dos utentes não vêm o medico como um profissional de saúde. Vêem-no como um amigo, um confidente, alguém para falar, alguém que os ouve.
… É a consequência da solidão diária.
… É o fruto de um Estado que não tem capacidade de resposta para acompanhar os mais idosos.
… É o efeito da mutação das famílias ditas tradicionais
… É o resultado da alteração de valor: Família.
… e o resultado deste abandono geriatrico, está bem visível… as visitas constantes ao médico, entupindo todas as vagas existentes, aumentando de forma gritante as filas de espera de quem está, realmente, mal de saúde!
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