Acho que traumatizei o meu filho com a história dos pobrezinhos…
Depois de explicar à criança que nem todos temos o mesmo poder económico, que nem todos tem uma casa para viver, que nem todas as crianças tem os brinquedos que sempre sonharam e que há muita gente que nem dinheiro para comer têm… o petiz “começou” a ver o mundo de outra forma. A mensagem que lhe transmiti, ou tentei, baseou-se nas diferenças de cada um, o sentimento de solidariedade, e acima de tudo no respeito pelo próximo.
O puto deixou-me descansar um dia, sem fazer perguntas, e um pequeno acontecimento fez florir outro rol de perguntas. Mas, não foi as perguntas que me surpreenderam, mas sim, as ilações que o puto chegou.
Um belo dia, depois de ir buscar o Dudu ao infantário, um senhor resolveu abrir a porta do seu carro estacionado junto ao passeio. Só tive tempo de travar de uma forma brusca… ou era isso ou levava-lhe a porta e nem sequer lhe pedia licença.
O filhote perguntou-me o que tinha acontecido e eu relatei o ocorrido. O miúdo desata a rir e diz que era muito giro isso acontecer “ a mãe arrancar a porta do outro carro”.
Chamei-o à razão – de uma forma calma e subtil – e perguntei-lhe se ele também achava piada se fizessem isso ao carro da mamã. Sem dar o braço a torcer diz-me que sim.
-“ ai, é?? E depois como vais para a escola, tu e a mana ?? E como vais para o ginásio?”- perguntava eu
E o puto não vais de modas.
- “ de táxi!!!”
- “Não, não ias de táxi. Porque a mamã ia gastar muito dinheiro a arranjar o carro e depois não tinha dinheiro para pagar o táxi…
- “ Olha, pedes ao pai!!!”
Mas que bem, o puto deve pensar que o pai é dono de um banco, ou que o dinheiro cresce nas árvores…
-“ Ó Dudu, para se ter dinheiro é preciso trabalhar muito. O dinheiro não nasce nas árvores, sabias?”
O puto cala-se um bom bocado e não desiste.
-“ mãe?? O pai trabalha muito, não trabalha?”
- “ Trabalha, sim, filho”
- “Oh, Pronto! Coitado dos pobrezinhos assim nunca vão ter dinheiro. O pai só trabalha, só trabalha. Olha mamã faz-me um favor… quando vires o papá diz-lhe que ele não pode trabalhar todos os dias. Está bem??”
Aiii santa inocência… no seu santo raciocínio se o pai não trabalhar todos os dias, logo ganha menos. E o dinheiro que deixa de ganhar vai para os pobrezinhos…
Vou deixar passar uns tempos e nem sequer vou dar importância às suas questões sobre as pessoas carenciadas. Sinceramente, acho que estas conversas estão a fazer mal ao puto. Já me chegou ou ponto de me dizer que tem vergonha na escola porque a mãe tem dois carros ( um carro e um chasso de estimação).
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