-“Mamã, o que tens aí no joelho?”
- “Uma cicatriz…”
Uma cicatriz que por teimosia me acompanha todos os dias. Veio-me à memória o dia que a ganhei. Tinha acabado de receber a bicicleta que tanto desejava… Uma bmx novinha em folha (daquelas porreiras para o cross e para as quedas).
Nunca fui muito de brincar com bonecas ou de brincadeiras, tipicamente, de meninas. O meu mundo era partilhado com rapazes e suas brincadeiras, nada melhor que um jogo de futebol, uma corrida de bicicleta… e se as coisas corressem mal era menina de arregaçar as mangas e porrada com ela! LOL Era uma autentica Maria-rapaz de tranças até às costas.
Depois de muito melgar a paciência do meu pai, lá consegui a minha “máquina”. Mas, como todas as bicicletas (com cheirinho a novo) os travões vêm muito presos… ou se tem força nas mãos para os conseguir puxar ou senão não trava e o espetanço é garantido.
Anui que deveria amaciar os travões antes de levar a bicicleta para junto dos meus amiguinhos. Nada melhor que treinar na rua onde morava: uma descida íngreme que culminava me forma de L. E assim o fiz… subi até ao principio da rua, vou a volta e preparo-me para a grande descida e sem travões. Weeeeeee é a loucura!! Mal percorro os primeiros metros apercebo-me do perigo e achei que não era uma boa ideia… o melhor, mesmo, era descer com ela na mão e subir pedalando. Se assim o pensei, assim o fiz! Tudo corria bem se não fosse um servente que estava a trabalhar na casa de um dos vizinhos. Este observava-me e teve uma saída quase tão perfeita como os piropos que, gratuitamente, oferecem… bah
- És muito tola! Em vez de desceres de bicicleta fazes ao contrário! Miúda esperta…
Aquelas palavras feriram o meu ego. Querendo mostrar que também conseguia descer de bicicleta… preparo-me para o derradeiro desastre de 2 rodas!
E lá estava eu a descer a toda a velocidade e sem travões, por mais que os puxa-se estes não respondiam… mais cem metros e a curva aproximava-se… nem tive tempo de virar, galguei o muro da vizinha ( eu e a bicicleta) e como se não bastasse estar num estado mísero, inconsolável e cheia de mazelas… sim, toda partida… ainda me vi ladeada de 2 pastores alemães que olhavam para mim com o ar mais desconfiado. Coitados, deviam estar a pensar : “porreiro, agora chove miúdas!!” LOL
Desde esse dia nunca mais dei ouvidos aos Homens da obras!! :P